quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Desfazendo mal entendidos


"Toda arte e toda indagação, assim como toda ação e todo propósito visam a algum bem; por isto foi dito acertadamente que o bem é aquilo que todas as coisas visam.” Aristóteles. Ética a Nicômacos, Livro I.

  O mundo contemporâneo vive um momento que na melhor das hipóteses podemos chamar de inusitado, e digo isso não para falar de crises e conflitos anunciados por filósofos como Nietzsche e Adorno, dentre tantos outros que trataram de modo pormenorizado do tema, mas chamar a atenção da nossa pseudo responsabilidade quando apontamos erros e julgamos ações de outrem. Quero sim de forma descomplicada refletir sobre alguns conceitos que se misturaram ao longo do tempo frente à pequena vontade humana de se dar ao trabalho de separar o joio do trigo.

Vejo comumente as pessoas utilizarem as palavras ética e moral como sinônimas e apesar de não estarem equivocadas no seu todo, isto se fizermos referência à etimologia das mesmas, posto que tanto o “ethos” grego quanto o “mores” latino se referem à maneira de agir regido pelo costume, pelas tradições e pelos valores, ou seja, tratam do comportamento humano, a filosofia e os mais diversos pensadores se ocuparam em criar um distanciamento conceitual para reduzir a confusão outrora existente e ainda não findada.

Moral é então, a ação do homem no mundo que pode ser certa ou errada dependendo dos valores que a sociedade em questão aceitar e assumir como corretos, doutro modo Ética é o exercício intelectual de averiguação da compatibilidade entre os valores, o pensar-decidir e o agir. E aqui, e somente aqui é que se concentra todo o problema que fizeram e fazem pessoas simples e de pouca erudição ou intelectuais do mais elevado gabarito se encontrarem.

A reclamação que ouvimos das pessoas acerca da ética quando dizem: “Fulano não tem ética”, “Beltrano não agiu com ética”, “Onde está a sua ética Ciclano?” Demonstra uma exigência da presença daquilo que efetivamente não se sabe o que é, ou pior o uso de modo idiossincrático de um conceito, refletindo o quão nossa sociedade se perdeu enquanto olhava para si mesma.

Agora, retornando a Aristóteles, se o Bem é aquilo que todas as coisas visam, por conseguinte, não é possível que o Bem seja individualizado, pois se assim o fosse este poderia ao mesmo tempo ser e não-ser, ou seja, contrariaríamos o primeiro e mais importante conceito da lógica de todo e qualquer raciocínio, a saber, “o que é é”, quando colocássemo-nos frente a uma situação onde algo pudesse ser um bem para uns e não para outros.

Ressalto com isso que o Bem se constitui no exercício pleno e diuturno de todas as nossas capacidades na busca da perfeição, da superação constante, enfim, da virtude. Ser virtuoso nada mais é do que perseguir de modo incansável o Bem. Destarte, ser moralmente correto confunde-se com promover o Bem.

Dito isto podemos perguntar: É possível que alguém seja ético ou não ético? A resposta se impõe de maneira imperativa, NÃO. Não é possível ser ético ou não ser ético, pois esta enquanto reflexão sobre o comportamento constitui-se na análise pormenorizada da moral, isto é, na avaliação da ação do indivíduo na busca do Bem que é, ou pelo menos deveria ser, para todos e não para um ou alguns.

A partir deste momento identificamos não uma crise ética, como alguns papagaios de pirata propalam por aí, mas outra crise. O que entrou em crise no mundo contemporâneo foi o homem que perdeu suas referências, tropeçou em seus produtos, embebedou com a profusão de luzes, cores e sons do seu novo mundo. O “homem criador” foi dominado por suas criaturas.

De resto, só podemos fazer menção à ética, à moral, à virtude ou aos valores se estivermos voltados para o Bem, não para o meu bem, mas para o Bem da coletividade, assim encontraríamos o que o homem procura desde sempre e mesmo que ao seu lado todo o tempo não consegue ver, a Felicidade, que como diz Aristóteles é o supremo Bem.

Um comentário:

  1. O que seria do mundo sem a arte? O referencial do belo, tão procurado como a busca de realização plena nos filosofos?
    Recordando Dostoiévski, "a beleza salvará o mundo".
    Lembrei de trazer para vocë caro amigo, esta mensagem de Paulo VI aos artistas, de 1965. Sempre admirei estes pequeno texto: http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/speeches/1965/documents/hf_p-vi_spe_19651208_epilogo-concilio-artisti_po.html

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