domingo, 3 de fevereiro de 2013

Traços do possível e do real em duas personagens da nossa educação


        Falar sobre aluno e professor ideais, parece–nos muito difícil visto que tais conceitos seriam tratados numa dimensão estritamente espiritual (idéias) quando não alcançamos ainda a dimensão do possível. Do mesmo modo citar características destas pessoas tolheria toda e qualquer possibilidade de avanço em detrimento da distância instaurada entre o real e o ideal. Assim limitamo–nos a falar do possível, do realizável, daquelas características que não necessitam de contexto para serem desenvolvidas, se é que as mesmas existem ou podem existir descontextualizadas.
        A estrutura montada do nosso sistema educacional condena a uma maioria absoluta dos nossos alunos a jogarem numa banca de cassino com cartas marcadas e crupiê desonesto. Alimentados pelas poucas vitórias, caem em verdadeiros devaneios acreditando que ser promovido de série é o seu grande objetivo e que uma boa nota é como pocker, uma questão de sorte.
       Então podemos dizer que o aluno que se recusa a jogar este jogo e que compromete–se consigo mesmo na intenção de desconsiderar notas, promoções e qualquer coisa que o valha, almejando doutro modo o seu crescimento intelectual, a sua formação enquanto pessoa e cidadão, deve ser tido como o aluno possível.
            De igual forma temos o professor mal remunerado, pessimamente capacitado, com mínimas condições de trabalho ou com remuneração razoável, diversos cursos de capacitação à sua disposição e colégios com excepcionais condições de trabalho, entrementes tanto uma quanto outra realidade não conseguem desenvolver no professor as qualidades que o caracterizariam como possível, pois à primeira falta o respeito à pessoa humana visto que a valorização do trabalho inexiste  e a segunda reflete o estereótipo ideologicamente criado sob edificações modelos, capacitações ilusórias e salários que por melhores que possam parecer não equiparam–se à força de trabalho empregada. Estas condições são conjecturais, entretanto inviabilizam o aperfeiçoamento dos professores para atingirem a zona do possível. Assim, professor possível seria aquele provocador de situações que pudessem proporcionar ao aluno momentos de reflexão e crítica à condição atual da sociedade.
        Agora podemos dizer apenas que professor e aluno possíveis são aqueles comprometidos com a educação, imersos neste processo de formação da sociedade futura, que não se contentam apenas em estarem mergulhados neste mar, mas que provocam redemoinhos e ondas mais fortes para mostrar a calmaria que nem todos foram submetidos, calados, imbecilizados, alienados.

7 comentários:

  1. Infelizmente Adriano, vivemos em um país que deixa a educação não em segundo plano, mas sim em quarto ou quinto. Escolas sem infra-estrutura, professores mal remunerados e alunos desmotivados. Afinal, isso é perfeito para o sistema, isso não permitirá o desenvolvimento de um cidadão critico, o qual irá buscar a mudança dessa situação. O sistema na verdade só quer números, o que importa é a quantidade e não a qualidade. Um bom exemplo para isso é a prova que testa o conhecimento dos alunos do ensino fundamental, para subir a nota deste teste, eles não melhoraram o nível fundamental de educação no país, simplesmente abaixaram o grau de dificuldade da prova. Enquanto as arenas para a copa e a corrupção aceita pelos governantes de forma rotineira vão "engolindo" milhões e milhões dos cofres públicos (do nosso bolso), a educação coitada... é deixada de lado, agonizando... e cada vez mais esquecida

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    1. Meu Caro Isaac, obrigado por compartilhar suas idéias comigo. Fico feliz por meus comentários terem encontrado eco em você. Acredito que com doses diárias de reflexão podemos começar a minar essa estrutura, posto que continuo entendendo que o Bem é irresistível e continuará a contaminar positivamente tudo o que tocar.
      Espero ver outros comentários seus. Até mais.

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  2. Adriano,
    Tão profundas são tuas "raízes" de convicção que a ignorância ( causa de todos os males), tem que ser combatida, que após cada vendaval os teus ramos verdejantes, tal qual um bambu chinês,voltam-se firmes em direção ao alto e produzem sombras de conhecimento que arrefecem a aridez da nossa terra.
    Quando Deus , não obstante às circunstâncias,te deu capacitação muito além da média, o fez com um propósito.
    Continua tua trajetória.Ele é contigo.
    Com carinho ao amigo e respeito ao profissional que honra nossa, tão combalida, classe de educadores.

    Cila Viana

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  3. Em minha monografia de conclusão do Curso de Filosofia fiz uma abordagem acerca do problema da fundamentação ético-antropológica de serviço educacional. Foi-me muito útil assimilar de maneira mais densa a educação em cada etapa do pensamento ocidental e também oriental,desdes suas origens - passando necessariamente pela paidéia grega- até a educação na era virtual. O meu objetivo, neste trabalho, é defender que, em todas as etapadas da história, a educação nunca foi neutra e, em sua intenção mais profunda, reside a necessidade de formar o ser-humano, para colaborar na sociedade, seja defendendo a pólis no conceito grego, seja defendendo uma idéia de Deus e com isto justificar uma insitituição, como na Era Medieva, enfim... Daí a questão ética, que aponto como critério para levantar o problema: A educação, olhando para os vários contextos e as várias antropovisões formadas para satisfazer as necessidades de cada cultura, de cada povo, liberta ou condiciona ser humano?
    Bem, amigo filósofo Adriano, agradecendo mais uma vez ao seu blog, ao ler a sua reflexão, voltei-me a perguntar: Se em cada época da história a educação não se mostrou neutra, diante da inversão de valores, da fragmentação do saber, da perca de referencial professor - aluno - isntituição - sociedade...qual seria o papel da educação no contexto hodierno?

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  4. Obrigado mais uma vez meu caro Amigo, nos próximos dias estarei fazendo essa reflexão, espero contar com seus comentários.

    Um forte e fraterno abraço.

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  5. Adriano,

    Gostaria de sugerir, que ao refletir sobre educação que focasse o EDUCERE, já que a mesma, medieval, moderna ou pós moderna, continua focando tão fortemente o EDUCARE.
    o professor, esquecendo que muito do que sabe, é uma somatória de conhecimentos acumulados por outros através do próprio eco das diversas culturas, e ao mesmo tempo, continuando a ver o aluno como tábula rasa.Os próprios currículos pré fabricados, contribuem para isso. Com a palavra nosso professor Adriano.
    Com carinho,
    Cila

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  6. Obrigado, caríssima amiga. Vamos fazer essa reflexão juntos nos próximos dias.

    Um forte e fraterno abraço.

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