sábado, 9 de março de 2013

Do Educare ao Educere



Ao longo dos anos o processo educacional formal foi se transformando na maneira como a sociedade consegue garantir que seus filhos possam dar continuidade em toda a construção política, ideológica, cultural, religiosa, ora erigida em certo período e que se espera permanecer o máximo de tempo possível.

Nessa perspectiva a compreensão do que é educação ficou sempre vinculada à ideia de agogé, do grego conduzir, assim educar seria conduzir alguém de uma condição para outra, resultando daí o paidós + agogé, ou seja, pedagogia. A escola então representa o que historicamente se acreditou que era ou sempre foi o seu papel, a saber, formar, instruir, preparar, educar, ou como diziam os latinos educare, garantindo que aquele que nada sabia ao ser abarrotado de informações das mais variadas naturezas, estivesse assim saciado em sua “sede”, ainda que não soubesse que desejava “água”.

Essa realidade se nos encontra hoje como dantes com as mesmas condições e expectativas, tanto dos “centros” do saber como daqueles que querem conhecer. A visão continua sendo que o jovem que receberá dentro em breve os controles da sociedade ainda é alumnus, quer dizer a criança que precisa ser cuidada, alimentada, preparada, fortalecida, para só depois criar, fazer, eclodir.

Ante tal fato poderíamos nos questionar sobre a importância do desejo de saber, sobre a convicção de que só é possível conhecer quando efetivamente o pensamento empreende um movimento em direção àquilo que provoca, que estimula, que desperta, enfim que excita.

A palavra, portanto não seria educare, mas doutro modo educere, posto que o conhecimento é o corolário da evolução interna ao indivíduo que perpassa por um exercício de autoconhecimento, “Conhece-te a ti mesmo”[1], para que só então este possa sondar outras dimensões possíveis.

Se o maior dos filósofos atenienses estiver com a razão o compromisso da família, da escola e da sociedade enquanto fomentadoras educacionais, não seria de formar seus filhos, pois a forma limita, impedindo o acesso do ser a ele mesmo, mas sim de provoca-los, instiga-los à maneira socrática, dando vazão ao fluxo contínuo que precipita de todo aquele que se encontra consigo.

O foco da educação sempre foi, é, e caminha para continuar sendo um amoldar do homem ao mundo, confinando sua curiosidade e desejo no canto mais esquecido do seu eu, quando consagrar-se-ia se aos modos de Einstein vislumbrasse que, "A educação é o que resta depois de se ter esquecido tudo o que se aprendeu na escola."[2]

Queremos um mundo de adultos engenhosos e criadores e para tanto adestramos nossos meninos e meninas para serem repetidores, e quanto melhor repetirem mais adequado foi nosso trabalho.

Plantamos mandacaru e queremos colher rosa.


[1] Expressão inscrita no templo de Apolo em Delfos e utilizada por Sócrates para declarar a importância do reconhecimento da ignorância para a busca do conhecimento.
[2] Albert Einstein.